O pterígio, popularmente conhecido como carne no olho, é uma condição ocular caracterizada por um crescimento anormal de tecido sobre a córnea. Esse avanço pode comprometer a visão se não tratado a tempo. A principal causa é a exposição prolongada aos raios ultravioleta (UV), mas há outros fatores que contribuem para o surgimento e a progressão dessa lesão.
Nesta reportagem, conversamos com o oftalmologista Dr. Aron Guimarães, que nos ajudou a aprofundar as informações técnicas e clínicas sobre essa condição que afeta milhões de brasileiros.
O que é pterígio e por que ele aparece?
O pterígio é uma formação fibrovascular que se origina na conjuntiva, parte branca do olho, e avança sobre a córnea em direção ao centro da visão.
O crescimento tem formato triangular ou em asa, sendo visível a olho nu. Embora geralmente benigno, em estágios mais avançados pode causar distorção visual e desconforto significativo.
Este distúrbio ocular afeta principalmente pessoas que vivem em regiões ensolaradas ou trabalham expostas ao sol. A combinação entre radiação solar intensa, vento, poeira e ressecamento ocular forma um ambiente propício para o desenvolvimento da condição.
Principais causas do pterígio
Exposição à radiação ultravioleta
A principal causa do pterígio é a exposição prolongada à luz solar sem proteção ocular adequada. Os raios UV, especialmente o tipo UVB, provocam alterações inflamatórias crônicas na conjuntiva. Isso estimula a formação de novos vasos sanguíneos e o crescimento de tecido fibroso.
Condições ambientais adversas
A presença constante de poeira, vento seco e areia favorece a irritação ocular. Pessoas que vivem em áreas rurais, em regiões desérticas ou tropicais são mais suscetíveis ao surgimento do pterígio. O microtrauma diário causado por esses elementos contribui para o início da lesão.
Predisposição genética
A hereditariedade também influencia. Indivíduos com histórico familiar de pterígio apresentam risco mais elevado de desenvolver a condição. Pesquisas recentes sugerem que certos genes relacionados à resposta inflamatória ocular são mais expressivos nessas pessoas.
Fatores ocupacionais
Trabalhadores ao ar livre, como agricultores, pescadores, operários da construção civil e carteiros, enfrentam maior risco de desenvolver pterígio ao longo dos anos devido à exposição contínua a raios solares e agentes irritantes.
Uso prolongado de telas eletrônicas
Embora não seja considerado um fator causal direto, o uso intenso de telas pode contribuir para o ressecamento ocular, o que agrava a sensibilidade da conjuntiva. Esse ressecamento pode intensificar quadros leves de pterígio ou favorecer sua progressão.
Quais são os sintomas do pterígio?
O pterígio pode ser assintomático no início, mas com o tempo, os sintomas tornam-se mais evidentes. A seguir, listamos os sinais mais comuns.
Sintomas iniciais mais frequentes
- Vermelhidão constante
- Sensação de areia ou corpo estranho no olho
- Ardência ocular
- Coceira persistente
- Fotofobia (aumento da sensibilidade à luz)
- Lacrimejamento excessivo
Sintomas em estágio avançado
- Visão turva
- Dificuldade para focar objetos
- Distúrbios refrativos como o astigmatismo
- Crescimento visível do tecido em direção à pupila
Quem está mais propenso a desenvolver pterígio?
Alguns grupos da população apresentam risco consideravelmente maior. Isso inclui trabalhadores ao ar livre, praticantes de esportes náuticos e pessoas que vivem em regiões com alta incidência solar.
Tabela de grupos de risco
| Grupo | Fatores de exposição predominantes |
| Agricultores | Sol direto, poeira, vento |
| Pescadores | Reflexo solar da água, alta exposição UV |
| Ciclistas e corredores | Vento constante, exposição prolongada ao sol |
| Trabalhadores da construção | Ambientes abertos, partículas suspensas |
| Moradores de regiões tropicais | Radiação solar intensa o ano todo |
Pterígio versus pinguécula: entenda a diferença
Muitas pessoas confundem pterígio com pinguécula, mas essas condições são distintas. A pinguécula é uma lesão amarelada na esclera que não invade a córnea. Já o pterígio, ao contrário, avança sobre a córnea e pode comprometer a visão.
| Característica | Pterígio | Pinguécula |
| Localização | Córnea (com invasão) | Esclera (parte branca do olho) |
| Potencial de crescimento | Alto, pode evoluir progressivamente | Geralmente estável |
| Comprometimento visual | Possível, especialmente em estágios avançados | Raro |
| Tratamento | Pode requerer cirurgia | Tratamento geralmente clínico |
O pterígio tem cura?
Sim, o pterígio pode ser tratado com sucesso. Em muitos casos, a lesão é controlada com o uso de colírios lubrificantes e anti-inflamatórios. No entanto, quando o crescimento do tecido atinge a córnea de forma significativa, a cirurgia torna-se necessária.
Quando a cirurgia é indicada
- Quando há risco de prejuízo visual
- Em casos de pterígio avançado com dor ou desconforto crônico
- Por razões estéticas, quando o crescimento é visível e causa incômodo
A cirurgia consiste na remoção do tecido fibrovascular, normalmente com enxerto de conjuntiva saudável para reduzir as chances de recidiva. A técnica atual é segura, com rápida recuperação e baixo índice de complicações.
A recidiva do pterígio é comum?
Infelizmente, sim. Em algumas situações, mesmo após a cirurgia, o pterígio pode voltar a crescer. As taxas de recidiva variam de 5% a 40% dependendo da técnica utilizada, dos cuidados pós-operatórios e da predisposição individual.
Fatores que aumentam a chance de recidiva
- Exposição contínua ao sol após a cirurgia
- Não utilização de colírios lubrificantes no pós-operatório
- Técnicas cirúrgicas desatualizadas
- Predisposição genética significativa
Novidades no tratamento do pterígio em 2025
A medicina oftalmológica está em constante evolução. Novas abordagens terapêuticas vêm sendo desenvolvidas para aumentar a eficácia do tratamento e reduzir a taxa de recidiva.
Avanços mais recentes
- Uso de medicamentos antiangiogênicos como a bevacizumabe
- Injeções de mitomicina C para evitar a proliferação de novos vasos
- Aplicações de colas biológicas no lugar de pontos cirúrgicos
- Estudos com terapia gênica para inibir o crescimento anormal do tecido
- Lentes de contato terapêuticas pós-operatórias para acelerar a cicatrização
Como prevenir o pterígio
A melhor maneira de evitar o surgimento do pterígio é adotando medidas preventivas no dia a dia. A proteção contra os efeitos nocivos da radiação solar deve começar na infância e se estender por toda a vida.
Estratégias eficazes de prevenção
- Utilizar óculos escuros com proteção 100% contra raios UVA e UVB
- Usar chapéus de aba larga em ambientes externos
- Evitar exposição solar prolongada entre 10h e 16h
- Aplicar lágrimas artificiais em ambientes secos ou com ar-condicionado
- Reduzir o tempo de exposição direta ao vento e à poeira
- Priorizar ambientes umidificados para manter a saúde ocular
Pterígio em crianças e adolescentes: um alerta crescente
Embora raro, o pterígio também pode surgir em crianças, especialmente em regiões muito ensolaradas. O alerta se intensifica em famílias com histórico da condição e em crianças que passam longos períodos ao ar livre sem proteção adequada.
A proteção ocular desde a infância é essencial para reduzir a probabilidade de lesões oculares relacionadas à radiação ultravioleta. Escolas e famílias devem reforçar hábitos saudáveis desde cedo.
Efeitos emocionais e sociais do pterígio
O impacto do pterígio vai além da visão. Muitos pacientes relatam constrangimento com a aparência do olho afetado, especialmente quando a lesão é visível e inflamada. A autoestima pode ser prejudicada, o que afeta a vida social, profissional e pessoal.
Em casos mais graves, o incômodo visual pode comprometer o desempenho em tarefas do cotidiano, como leitura, direção e uso prolongado de telas. Por isso, o acompanhamento oftalmológico regular é indispensável.
Mitos e verdades sobre o pterígio
Existem diversas informações equivocadas sobre essa condição ocular. É fundamental esclarecer esses pontos para que o tratamento seja mais eficaz e o paciente se sinta mais seguro.
Mitos comuns
- Pterígio é contagioso: Falso. Trata-se de uma alteração anatômica não transmissível.
- Colírios curam o pterígio: Falso. Eles aliviam sintomas, mas não eliminam a lesão.
- Apenas idosos desenvolvem pterígio: Falso. Jovens e até crianças podem ser afetados.
Conclusão
Entender o que provoca o pterígio no olho é o primeiro passo para combatê-lo de maneira eficaz. A radiação ultravioleta continua sendo o fator mais decisivo, mas o risco é potencializado por condições ambientais, predisposição genética e hábitos inadequados de proteção ocular.
A prevenção, por meio do uso constante de óculos com proteção UV, hidratação ocular e cuidados com ambientes agressivos, é a melhor arma contra essa condição.
O diagnóstico precoce é vital. Ao menor sinal de crescimento anormal na parte branca do olho ou sintomas persistentes de irritação, deve-se buscar orientação oftalmológica.
A combinação entre conscientização, acesso ao tratamento e novas tecnologias promete um futuro com menos casos graves e melhor qualidade de vida para os pacientes.

